Médio Juruá (AM) é uma das regiões mais conservadas da Amazônia graças às soluções da floresta praticadas pelas comunidades locais, como extração de açaí, coleta de sementes e criação de tartarugas | Foto: Nilmar Lage / Greenpeace
Por Andressa Santa Cruz – Greenpeace | Há milênios, os povos da floresta desenvolvem vários saberes e práticas que conservam e sustentam ecossistemas inteiros. Com o agravamento da crise climática, essas soluções se mostram ainda mais urgentes.
“As soluções para conter a tripla crise global — climática, perda da biodiversidade e excesso de lixo — já existem. São praticadas há gerações pelos povos da floresta, mas falta reconhecimento, valorização e financiamento direto para que sejam implementadas, fortalecendo uma nova opção econômica que contrapõe a economia da destruição que vemos hoje na Amazônia e outras florestas tropicais”, destaca Rômulo Batista, coordenador de Soluções da Floresta do Greenpeace.
As soluções da floresta são diversas práticas tradicionais, inovadoras e sustentáveis conduzidas por povos indígenas e populações tradicionais. Promovem bem-estar e conservação, além de contribuírem para o equilíbrio climático, aliando tecnologias ancestrais com justiça social e geração de renda, principalmente através dos produtos da sociobiodiversidade.
Maria Socorro, coletora de sementes de andiroba e moradora da Comunidade do Roque, no Médio Juruá, no Amazonas, umas das regiões mais conservadas da Amazônia e berço de diversas soluções da floresta | Foto: Nilmar Lage / Reprodução Greenpeace
As verdadeiras soluções da floresta são baseadas na natureza e no protagonismo indígena e de povos e comunidades tradicionais. Já as falsas soluções priorizam lucros e os interesses do mercado, promovendo desigualdades, conflitos e, na maioria das vezes, tem pouco ou nenhum valor para proteção ambiental.
Antonio de Souza, presidente da Codemaj (Cooperativa Mista de Desenvolvimento Sustentável e Economia Solidária do Médio Juruá), ajudando a fazer farinha na Comunidade do Roque (AM), em umas das regiões mais conservadas da Amazônia e berço de diversas soluções da floresta | Foto: Nilmar Lage / Reprodução Greenpeace
Na COP30, em Belém, uma das pautas centrais será orçamento para conter a crise climática. É a chance de direcionar recursos exclusivos e diretos para quem protege a natureza há gerações, principalmente nas três bacias de floresta tropical: na Amazônia (Américas), no Congo (África) e na Papua (Ásia).
“As três grandes florestas tropicais do mundo — Amazônia na América do Sul, Bacia do Congo na África e as Bacias do Mekong, Indonésia e Papua no Sudeste da Ásia —, são como primas distantes, porque vivem problemas e soluções parecidas, apesar da distância. Por isso, a importância de fortalecer nossa aliança global, ecoando nossa luta mais longe”, explica Batista.
Hoje, menos de 1% do orçamento climático global chega às populações indígenas e tradicionais, apesar de serem as principais responsáveis por manter a floresta em pé. Sem apoio financeiro exclusivo, direto e de longo prazo, aumentam os riscos da expansão da economia da destruição como desmatamento, o agronegócio e o garimpo.
Ecivaldo Ferreira, presidente da Asproc, associação mãe do Médio Juruá (AM), uma das regiões mais conservadas da Amazônia. Ele mostra uma placa de borracha, produzida pelos seringueiros associados | Foto: Nilmar Lage / Reprodução Greenpeace
Sem a Amazônia, não há futuro para o Brasil nem para o planeta. Ela abriga a maior floresta tropical do mundo, o maior reservatório de água doce da Terra e é um dos principais sumidouros de carbono, fundamentais para o clima global.
Mais da metade da Amazônia brasileira está oficialmente protegida por reservas especiais, como Terras Indígenas, Unidades de Conservação e Territórios Quilombolas. Através da auto-organização e gestão comunitária, são locais que integram proteção ambiental com desenvolvimento social e econômico. No entanto, sofrem com ausência de investimento, invasões e políticas insuficientes.
O Mecanismo Floresta Tropical para Sempre (TFFF, do inglês Tropical Forest Forever Facility) é uma proposta do governo brasileiro para financiar a proteção e recuperação de florestas tropicais. O modelo oferece pagamentos por hectare conservado, reforçando que a floresta tem mais valor em pé do que derrubada.
O Greenpeace acredita que o TFFF pode romper com o modelo de conservação baseado em compensações de emissão, porém é necessário a adoção de garantias de governança forte, para que o dinheiro não seja utilizado em atividades que destruam o meio ambiente e violem os direitos humanos. O TFFF deve assegurar total transparência e, principalmente, inclusão das populações indígenas e tradicionais – pelo menos 20% dos recursos devem chegar de forma direta para os povos que vivem e protegem a floresta. O lançamento está previsto para a COP30, em Belém.
Ainda há tempo para mudar. A Amazônia pode liderar uma economia regenerativa, baseada na sociobiodiversidade e no protagonismo de povos indígenas e populações tradicionais. Apoiar essas soluções é acima de tudo Respeitar a Amazônia e as pessoas que vivem nela.
Assine a petição “Respeitem a Amazônia” e fortaleça as soluções dos povos da floresta
Rômulo Batista, coordenador global de Soluções da Floresta do Greenpeace durante a Expedição Respeitem a Amazônia, no território do Médio Juruá (AM), uma das regiões mais conservadas da Amazônia | Foto: Nilmar Lage / Reprodução Greenpeace
Este texto foi originalmente publicado pelo Greenpeace, de acordo com a licença CC BY-SA 4.0. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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